Nesta segunda-feira, o site Carnavalesco fez um editorial (importantíssimo dada a relevância do site no “mundo do samba”) contra o corte dos ensaios técnicos, decisão da LIESA que – aparentemente – não terá mais volta (ao menos para o Carnaval de 2018). Apesar da redução da verba repassada às escolas, segundo uma reportagem do UOL, a RioTur confirmou que a Prefeitura atuaria no que lhe coubesse caso a Liga optasse pela realização dos ensaios técnicos.
Após conversar com alguns amigos em grupos de WhatsApp e posts do Facebook, resolvi escrever esta postagem com algumas propostas para dois cenários distintos. O primeiro é a redução dos custos, de modo a tentar – num primeiro momento – manter a realização dos ensaios. O segundo cenário é o de elevar as receitas de modo a tornar os ensaios lucrativos para as escolas e – num ciclo positivo – permitir um custo maior, o que atrairia mais receitas até uma estabilização e (como objetivo final) independência financeira (não só das escolas em relação à Prefeitura, mas também da verba dos ensaios em relação ao montante disponível para cada Carnaval).

Ensaio do Salgueiro para o Carnaval 2017 fez a Sapucaí transbordar. Fonte: Carnaval Interativo
CENÁRIO 1 – REDUÇÃO DE CUSTOS
01) Tripés
Extinguir os tripés para demarcar alegorias e/ou “causar impacto”. Para evitar comparações entre as escolas (inclusive pela imprensa carnavalesca), eles seriam proibidos; as alegorias seriam demarcadas por cordas/faixas e/ou por alguma musa ou subcelebridade.
02) Camisas
As camisas distribuídas pelas escolas deveriam diferenciar apenas os setores; sem necessidade de uma camisa por ala. Isso já ocorria em geral na Série A, mas – novamente, para efeitos de comparação – as escolas se uniriam para todas seguirem o mesmo padrão.
03) Mesma estrutura para mais escolas
Juntar o máximo possível de escolas (como realizado em São Paulo) por dia/noite de ensaio. Poderia, inclusive, haver simulações dos dias oficiais, com seis ou sete escolas a cada noite – fundamental muita organização e respeito aos horários – o que faria com que as escolas ensaiassem mais de uma vez.
Para abranger as escolas da Série A, poderiam ser criados oito ‘blocos’ e organizados quatro grandes fins de semana mais ou menos assim:
SÁBADO 01 – 4 escolas de sexta (bloco A) + 3 escolas do domingo (B)
DOMINGO 01 – 3 escolas do sábado (C) + 3 escolas da segunda (D)
SÁBADO 02 – 4 escolas do sábado (E) + 3 escolas do domingo (F)
DOMINGO 02 – 3 escolas de sexta (G) + 3 escolas da segunda (H)
SÁBADO 03 – Blocos G e D
DOMINGO 03 – Blocos E e B
SÁBADO 04 – Blocos C e H
DOMINGO 04 – Blocos A e F
Apenas como exemplo, para 2018 o bloco G poderia ter Sossego, Renascer e Porto da Pedra; enquanto que o bloco F poderia contar com Mangueira, Vila Isabel e Grande Rio. Logicamente, neste ano de 2018, por serem 7 escolas no domingo e 6 na sexta, o bloco A teria uma escola a menos, enquanto que o bloco B teria uma escola a mais. Outro detalhe importante seria mesclar as escolas da Série A às do Especial dentro dos ensaios – aliás, o ideal seria que uma ‘grande’ abrisse o dia de ensaios e outra ‘grande’ fechasse.
CENÁRIO 2 – AUMENTO DE VERBA
01) Parcerias
Sempre é dito que a Liga tem dificuldades para obter parcerias até para os desfiles oficiais. Seria importante, desta forma, permitir parcerias PONTUAIS apenas para os ensaios – exemplo: outra emissora para transmitir e cobrir (a Rede Globo manteria a exclusividade dos desfiles e da apuração, mas abriria o pré-Carnaval), inclusive via Internet, os ensaios. Marcas de bebidas e alimentos também perderiam a exclusividade no pré-Carnaval (ou, caso quisessem mante-las, teriam de aumentar suas verbas).
02) Cobrança de ingressos
Este é um tema bastante delicado. Sou radicalmente contra a cobrança de ingressos para as arquibancadas, mesmo que “simbólicos”, pois temos muitas famílias de até oito pessoas indo à Sapucaí – logo um programa gratuito pode passar a custar R$ 80,00. Além disso, é prática recorrente do “mercado” (desculpem-me os amigos liberais, mas não vamos entrar neste mérito aqui): depois que a empresa fixa um valor para o consumidor, a tendência é só aumenta-lo; jamais reduzi-lo.
No entanto, seria possível cobrar as entradas para as frisas de determinados setores – mantendo um mínimo também gratuito para deficientes/idosos/gestantes -, de forma a captar recursos de turistas nacionais e internacionais. Neste sentido, relacionando este item ao item 01, as ligas poderiam buscar parcerias com agências de turismo que quisessem levar clientes para os ensaios com maior conforto – seus veículos teriam acesso liberado para que os turistas parassem “na porta”; em contrapartida tais turistas pagariam um ingresso que seria dividido entre agência e escolas.
Para isso, ser possível, no entanto é fundamental mais trabalho: as frisas teriam de ser montadas com maior antecedência e a estrutura de sanitários/lanchonetes deveria funcionar quase que idealmente desde janeiro. Um mínimo de informações também ajudaria bastante – não precisa ser uma revista bonita, de alto custo; basta ter um aplicativo com os dados das escolas que ensaiarão (nome, enredo, nomes importantes, última colocação e samba). Fundamental destacar: NÃO à “gourmetização” ou “nuttelização” do Sambódromo – olha a crise aí! -, a grande maioria do espaço (e, principalmente, os setores iniciais) seguiria popular.
Outra forma é ter apenas o Setor 09 (frisas e arquibancadas) exclusivo para turistas, conforme ocorre nos desfiles oficiais. Observar que, com mais escolas por noite – sempre com duas grandes -, haveria boas chances de o público ser alto em todas as noites de ensaios e este objetivo ser factível. Afinal, uma noite com Sossego, Alegria e Inocentes (e quem me conhece sabe que eu amo as escolas ‘menores’) não venderia ingresso para turista – e se o “povão” tivesse de pagar, aí sim que a Sapucaí ficaria mais vazia.
03) Venda de produtos
É consenso que as escolas de samba e a LIESA pouco aproveitam o poder de suas marcas em pleno 2017. Felizmente este cenário tem se revertido com algumas iniciativas aqui e acolá. No entanto, algo que sempre observei nos ensaios técnicos é que não há uma “loja oficial” da LIESA ou mesmo vendedores credenciados – como nos dias de desfiles – com camisas, bonés, copos e outros produtos das escolas de samba.
Há alguns anos foi montado um estande na entrada do Setor 02, porém ele fica um tanto escondido – e, se não me engano, não fica aberto após os ensaios. Além disso, para acessa-lo, é preciso SAIR da área do público (se você está na frisa, sabe que é difícil voltar; se está na arquibancada, tem de descer a escadaria). Em outras palavras, “no alto da emoção”, o turista pensa em comprar alguma coisa das escolas, porém não encontra! Eu mesmo, que tenho diversas camisas, geralmente era questionado por alguns estrangeiros com quem conversava nos ensaios onde tinha conseguido a camisa. Já até cogitei levar um lote extra para revender, rs…
Deste modo, poderia ser feita uma loja oficial em cada lado da Sapucaí, de fácil acesso, bem divulgada (iluminação, comunicação pelo locutor oficial), e que funcionasse de 1h antes dos ensaios até 1h depois, por exemplo. Vendedores autorizados também poderiam passar, pelo menos, nas frisas (turísticas) e até ‘anotar pedidos’.
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Este assunto é extenso e não se esgota aqui certamente. Além disso, há várias outras formas possíveis de trabalhar a mesma ideia básica. Aproveitei o tópico, inclusive, para pincelar alguns “subtemas” que poderiam ser abertos e debatidos com mais detalhes (como o uso da Internet, por exemplo, por meio de aplicativos – site é coisa da década passada).
E você, o que acha do tema? Tem outras ideias?